parfois, la-nave-va [
parfois-la-nave-va-pas ]
estive muito tempo na floresta a brincar com
os crocodilos
não me parece que isto interesse a alguém, bem,
mas sim, assim foi: na ponta dos pés, pela esquerda,
havia uma ave que não vinha todos os dias
emudecíamos a olhar as plantas
muitas plantas: havia papoilas, orégãos e até daquelas que
comiam insectos
nada escrevemos senão com pauzinhos na areia
que o vento apagava
que a água bebia
que a luz murmurava
atravessávamos o crocodilo com-cuidado quando ele dormia
e usávamos um estranho código quando acordava
pensávamos pouco como se vivêssemos eternamente na cabeça de
alberto caeiro
e daí as vagas palavras incompletas
lembro que uma vez dissemos pa ra li sia outra flo res cer
e talvez outra vez tenhamos dito si me tria
por vezes sonhávamos juntos com as divas e as loucuras boas de fellini
com girassóis imensos - uma vez sonhei com mo ran gos
e dis seste de va gar mo ran gos
tudo isto era ao mesmo tempo encantador e
pantanoso
e aos poucos soubemos que o que era importante era
não-ver e arder-biblicamente
[ estar, enfim, sem permanecer
e voar-voar-infinitamente a cada travessia
até serenamente tudo-não-ser: tudo-perder-tudo-renascer do dia